quinta-feira, 7 de julho de 2011

ENTRE DOIS PORTÕES-MARCOS TOLEDO

 ENTRE DOIS PORTÕES
 

Saí de casa cedinho, na esperança de fazer uma surpresa para o meu amor.
Sempre que seus pais saíam para ir à casa de praia, ela, com a desculpa de estar cansada, não ia com eles.  Em seguida, ligava para mim, para que eu fosse correndo para lá, a fim de ficarmos a sós, namorando.
Os pais dela nem podiam imaginar que isso acontecia, pois éramos novos e não havia, ainda, um compromisso muito sério entre nós, mas já existia muita intimidade.
Na noite anterior, ela havia falado para mim que seus pais iriam viajar e que assim que ela acordasse, avisaria, para eu ir até lá, onde poderíamos namorar mais à vontade.
Estava tão ansioso para tê-la nos braços que nem dormi direito. Logo cedinho, sabendo que seus pais saíam na madruga, corri para sua casa querendo fazer surpresa.
Toquei o interfone, mas por estar nervoso, toquei errado. Logo escutei a voz de um homem e perguntei, meio sem graça, por ela. O homem, muito chateado por causa do horário, disse que não era ali. Voltei a tocar a interfone e ela atendeu.
Falei ser eu e ela abriu o portão externo, esquecendo-se de abrir o portão interno. Ansioso, entrei, batendo o portão às minhas costas. Quando pus a mão no portão interno, vi que ele estava fechado e eu preso no caminho entre os dois portões, sem saber o que fazer - minha mão não alcançava mais o interfone do lado de fora e não podia gritar por causa dos vizinhos.
Finalmente, a minha namorada ligou novamente o interfone e me chamou meio baixo e meio alto e eu falei, para ela ouvir, que estava preso entre os portões. Ela, então, disse que o portão interno deveria estar fechado à chave, pois ainda era muito cedo, e resolveu jogar as chaves para que eu pudesse abrir a portaria e entrar.
Debruçou na janela e arremessou as chaves para mim que estava com os braços levantados para apará-las. Só que seu arremesso foi muito forte e as chaves ficaram presas no fio de telefone do prédio. Diante disso, ela deu um grito de susto.
Logo em seguida ao grito dela, um vizinho apareceu na janela perguntando quem eu era, o que estava fazendo ali àquela hora e que saísse imediatamente ou chamaria a policia.
Tentei argumentar, dizendo que eu era o namorado da vizinha dele, mas o sujeito entrou rapidamente, não me dando chance de falar coisa alguma. Minha namorada, em vez de trocar a roupa e descer para abrir a porta, ficou na janela, olhando aquela cena ridícula de eu estar preso ali.
Em poucos minutos, apareceu uma patrulha. Imaginei logo que fora chamada pelo vizinho e, para cúmulo do meu azar, veio rapidamente.
Os policiais desceram do carro com as armas em punho, mandando-me sair dali. Falei que estava preso e não conseguia entrar nem sair. Um dos policiais gritou comigo, para que eu deitasse no chão, o que fiz de imediato.
Nisso, o vizinho se sentindo garantido pela polícia ali presente, desceu e abriu os dois portões para os policiais entrarem. Minha namorada continuava na janela, tentando falar alguma coisa, sem conseguir, devido ao nervosismo.
Fui parar na delegacia, tentando explicar que ia ao apartamento da minha namorada que, horas depois, por ser menor de idade, apareceu com os pais para me liberar.
Ela havia ligado para eles dizendo o que tinha acontecido e eles voltaram do meio do caminho para me livrar da cadeia.
Depois disso, namoramos ainda algumas semanas, mas nunca mais fui ao seu apartamento, pois seus pais a levavam sempre que saíam.
Amém
Marcos Toledo

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