quarta-feira, 20 de junho de 2012

SUFÔCO-MAVI LAMAS

SUFÔCO

Mavi Lamas



Saio apressada...

Cansadas crianças esperneiam

Mães gritam

Oferecem sorvete, pipocas, tudo...

Impotentes, arrastam os filhos

Mães de psicologia de jornal

Do outro lado da rua,

Do viaduto, do fim do mês

Êle me aguarda...



Onibus cheios

As ruas transbordam pessoas

Calçadas, barracas, comidas

Bocas esfomeadas...

Do outro lado dos balcões

Das esquinas

Êle me aguarda...



O sol se põe...

Começa a criar sombras

Me bate uma crise de identidade

O que faço no mundo?...

O que faço na cidade?...



De repente..

Entro no espírito dos que consomem

Me vejo fazendo compras

Não encontro o que procuro...

Do outro lado das sombras

Êle me espera...



Doem-me as batatas das pernas.

Doem-me as batatas das coxas

E nem me pergunto

Se coxas têm batatas...

Reconheço estou perdida

E não identifico atalhos

Do outro lado do longe...

E do perto...

Êle me aguarda...



A memória me relata...

Estou perto da rua da saudade

Homens tatuados passeiam

Exibem suas figuras

Crianças trafegam no meio do transito

Tentam limpar os vidros dos carros...

Do outro lado

De qualquer circunstância

E situação caótica..

Ele me aguarda...



Tropeço sobre meus passos

Não resisto mais...

Entro na primeira porta

Na penumbra...

È silêncio e refúgio



Êle vem ao meu encontro..

Tento falar...

Êle coloca a mão na minha boca :

Você veio é o que importa...



Horas depois saio igual 

A quem nunca ouviu falar

Em pernas e coxas cansadas

Com batatas ou não...

Luzes brilham sobre o asfalto...


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