SUFÔCO
Mavi Lamas
Saio apressada...
Cansadas crianças esperneiam
Mães gritam
Oferecem sorvete, pipocas, tudo...
Impotentes, arrastam os filhos
Mães de psicologia de jornal
Do outro lado da rua,
Do viaduto, do fim do mês
Êle me aguarda...
Onibus cheios
As ruas transbordam pessoas
Calçadas, barracas, comidas
Bocas esfomeadas...
Do outro lado dos balcões
Das esquinas
Êle me aguarda...
O sol se põe...
Começa a criar sombras
Me bate uma crise de identidade
O que faço no mundo?...
O que faço na cidade?...
De repente..
Entro no espírito dos que consomem
Me vejo fazendo compras
Não encontro o que procuro...
Do outro lado das sombras
Êle me espera...
Doem-me as batatas das pernas.
Doem-me as batatas das coxas
E nem me pergunto
Se coxas têm batatas...
Reconheço estou perdida
E não identifico atalhos
Do outro lado do longe...
E do perto...
Êle me aguarda...
A memória me relata...
Estou perto da rua da saudade
Homens tatuados passeiam
Exibem suas figuras
Crianças trafegam no meio do transito
Tentam limpar os vidros dos carros...
Do outro lado
De qualquer circunstância
E situação caótica..
Ele me aguarda...
Tropeço sobre meus passos
Não resisto mais...
Entro na primeira porta
Na penumbra...
È silêncio e refúgio
Êle vem ao meu encontro..
Tento falar...
Êle coloca a mão na minha boca :
Você veio é o que importa...
Horas depois saio igual
A quem nunca ouviu falar
Em pernas e coxas cansadas
Com batatas ou não...
Luzes brilham sobre o asfalto...
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