Hoje é o dia do meu aniversário – dezoito anos. Para mim, é o pior dia da minha vida, pois é quando saberei a verdade sobre mim.
Horrível esse início, não acha? Mas eu explico.
Sou o oitavo filho de uma família e o único homem entre sete mulheres, ou seja, passei minha infância e adolescência ouvindo todos dizerem que no dia em que completasse dezoito anos viraria lobisomem – eu deveria rezar para que, nesse dia, não houvesse lua cheia, senão...
Com medo dessa lenda, saio de casa sorrateiramente, vou para o meio do mato, sento-me em um tronco seco, olho para o céu e vejo a lua cheia – minha garganta ronca de nervoso... será?
Como não tenho relógio, fico imaginando que horas devem ser; a lenda diz que à meia-noite me transformarei... ou não?!
Peço para todos os santos possíveis e imagináveis não deixarem isso acontecer, mas algo começa a ocorrer em mim: calafrios, tremedeiras, ardência nos olhos. Corro para o meio da mata, chorando, com medo. Então, era verdade?! Viraria um lobisomem?! Por quê? Prefiro morrer a ter de passar a vida a fugir e fazer mal a alguém.
Quando paro, estou próximo ao lago em que, por muitas vezes, nadei, sorri e brinquei. Escuto algo se mexer na folhagem da margem do rio e pergunto alto:
– Quem está aí?
Em resposta, uma voz feminina diz:
– Fique calmo, não vou lhe fazer mal!
Como não vejo quem é, volto a perguntar:
– Quem é você? Apareça!
– De repente, ela aparece, é a mulher mais linda que já vi, está com uma das mãos esticadas e fala macio – coisas doces – parece música saída de um instrumento.
Hesito em dar-lhe a mão; pergunto por que toma banho no rio a essa hora da noite, se não sente medo, pode aparecer um bicho qualquer...
Ela, então, olha para mim, sorri, pede novamente minha mão, começa a cantar suavemente e diz:
– Eu sou a Mãe D´água, meu amigo lobisomem, venha comigo e acabarei com seu sofrimento.
AMÉM
Marcos Toledo
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