O CIO DA CHIQUITITA
Eu tinha dez anos e era um capetinha, como todos diziam, e cabia em mim direitinho.
Meu pai tinha uma vendinha na cidade e, como era uma pequena cidade do interior, nós
éramos bem conhecidos por causa da venda.
Havia um vendedor que vivia empurrando coisas para meu pai vender. Às vezes, meu pai
dizia que ali não conseguiria vender tal produto, mas o camarada deixava assim mesmo. Aquilo
ficava ali parado,sem vender, pois as posses do povo da cidade eram poucas.
Chegava o final do mês e lá ia o vendedor cobrar pelos artigos que deixara, inclusive por
aqueles que meu pai não queria. Ele perturbava até meu pai tirar o dinheiro das despesas
internaspara pagar-lhe.
Uma coisa a mais me deixava enfurecido com aquele vendedor: ao chegar à cidade, parava
seu caminhãozinho na praça, para poder ir de comércio em comércio cobrando e deixando
mercadorias,e como ele detestava animais, chutava os cachorrinhos que se aproximavam dele.
Nós tínhamos uma cadela chamada Chiquitita e, num dia em que eu o vi chutando os
cachorrinhos na praia mais uma vez, resolvi descontar, pregando-lhe uma peça. Peguei um pano
velho no chão e esfreguei na vulva da Chiquitita que estava no cio.
Esfreguei muito, mas muito mesmo... Quando o vendedor chegou para conversar com meu
pai, eu fingi que ele estava com a calçasuja na barra e, simulando tentar limpar, comecei a
esfregar em sua calça aquele pano com o cheiro da Chiquitita. Aproveitei para esfregar tamb�m
na pasta que ele usava, sempre fingindo que estava limpando. Ele até comentou com meu
paique eu era um bom menino, muito prestativo...
Quando ele saiu à rua, foi um Deus nos acuda! Os cachorros foram atrás dele; uns faziam xixi
na sua calça, outros queriam agarrar sua perna e eu, enquanto ria, contei uns oito cachorros. Ele se
escondeu dentro do caminhãozinho, ligou o carro e saiu em disparada, mas ainda consegui jogar o
pano na caçamba do caminhão que sumiu na poeira.
Nunca mais ele chutou ou bateu em outro animal da minha cidade. Sempre que ele chegava,
olhava de um lado para o outro, para ver se havia cachorros por perto e, aí sim, descia do carro.
Amém
Marcos Toledo
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