quarta-feira, 18 de julho de 2012

SEPARADA-MARCOS TOLEDO

       Hoje, acordei mais cedo do que o normal, mas com uma felicidade inimaginável
 estampada no rosto, pois passei minha primeira noite sem aquele sujeito roncando
ao meu lado.
       Calma, eu explico: depois de trinta anos de casada, pedi a separação, após
 descobrir que ele tinha uma amante. Na hora, quis morrer, sair correndo sem rumo,
 me envenenar, gritar, sei lá, queria fazer alguma coisa... Descobri que a dita amante
 tinha metade da minha idade! Credo, que ódio senti de mim e de ter envelhecido,
 mas, depois com a cabeça mais leve, calma, vi que ela é que estava levando a pior,
 pois já tinha tirado todo o caldo daquele traste.
       Ele tinha a minha idade, cinquenta e seis anos, e já não era lá esse homem todo
na cama – pelo menos comigo, funcionava de três em três meses. Dinheiro eu tenho,
 pois sempre trabalhei e ainda ia ficar com boa parte do nosso patrimônio, o que
 não era pouco. A saúde dele também não era perfeita, havia sofrido um enfarte
 leve, e eu pensava ser essa a razão dele não me procurar tanto. Então pensei –
 acho que estou com sorte; quem vai ser a enfermeira dele é aquela lá, e não eu.
        Fui para o banheiro e, de propósito, não fechei a porta. Liguei o rádio numa
 estação de música, o que não fazia há muito tempo – ele ouvia só notícias, e ai de
mim se trocasse... era falatório até ele sair para o escritório.
        Agora vinha a pior tarefa: falar com meus dois filhos sobre a separação,
 mas acreditava que eles aceitariam numa boa, pois sempre estiveram do meu lado e
 não seria dessa vez que iriam criticar minha atitude, até porque eu era a vítima
 dessa história.
        Parecia que o mundo estava sabendo que eu estava solteira, pois apesar de
 sempre ter dado uma caprichada no visual, me maquiei mais e coloquei aquele
 vestido que não usava há muito tempo e era bem sexy.
        O porteiro estava passando uma vassoura no corredor e ao me ver arregalou
 os olhos e foi abrir a porta para mim. Agradeci-lhe, retribuindo a gentileza com
 um largo sorriso. Peguei meu carro e, na saída da garagem, um carro parou para
 eu sair, o que quase não acontecia. Ao parar no sinal, recebi uma piscadela de um
 sujeito num tremendo carrão, e o cara parecia ter a metade da minha idade! Será
 que tinha saído no jornal a minha separação e eu não sabia, ou será que eu é que
 não tinha olhos para isso tudo à minha volta?
        Sei lá, só sei dizer que estava me sentindo ótima, e não seriam meus filhos que
 iriam tirar isso de mim e, claro, muito menos meu ex-marido que, pelo visto,
 logo ia quebrar a cara e querer voltar. Já tinha visto esse filme com outras amigas
 e nunca dera certo; a volta era pior do que a saída.  Já que decidira isso – e quem
 não decidiria ao saber que estava sendo traída? – eu seguiria em frente. Eu heim!
 Agora ia viver o que não tinha vivido com ele ou por causa dele.
        Graças a Deus, meus filhos entenderam e disseram que a vida era nossa e no
 que decidíssemos eles nos apoiariam, pois eram nossos filhos e não nossos donos.
      Saí da casa de um deles, onde nos reunimos, já à noitinha; peguei o carro para
 ir embora e resolvi dar uma volta maior que o normal para ver a cidade. Agora, minha
 vista via tudo de outra forma. Na avenida, o pneu do carro furou e demorei quase
 dez minutos procurando onde ficava o estepe.  Logo que achei, parou um motorista
 para me auxiliar; aceitei e, quando quis gratificar o rapaz, ele disse que aceitaria,
 sim, um chope no bar próximo. Achei aquilo um abuso e ia dar-lhe um fora,
 mas me lembrei que estava solteira e aceitei.
        E não é que meu ex-marido tinha razão? Sair com pessoas mais novas que nós,
 é bom demais! Saio com esse rapaz sempre que estou só. Ligo para ele e lá vamos
 nós, namorar em algum lugar romântico.
       Amém
       Marcos Toledo

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