quinta-feira, 10 de maio de 2012

SANTO ANTÔNIO-MARCOS TOLEDO

SANTO ANTÔNIO
 

 

        Trabalhava no centro da cidade, próximo à igreja de Santo Antônio. Da minha janela, dava para ver a procissão dos fiéis no seu dia.

 

Havia barraquinhas, festas e missas. Antes das missas, via alguns padres e freis caminhando pelo pátio da igreja, conversando com várias pessoas. Quando não tinha nada para fazer, ficava ali, olhando aquele movimento, mas não tinha a fé que aquelas pessoas tinham em Santo Antônio, mesmo porque, eu tinha vinte anos, era brincalhão, farrista, um jovem rapaz namorador.
   

         No trabalho eu tinha um amigo que era meu companheiro de farras. Íamos para os bailes, boates e namorávamos, mas também trabalhávamos muito, ali.
   

       Certa vez, a empresa foi vendida e o novo dono queria pôr ordem nos horários, para não ter que pagar horas extras, e até mandou alguns funcionários embora. Era época de contenção de despesas na empresa, e tínhamos que obedecer às novas regras.
   

        No dia de Santo Antônio, saí para almoçar com meu amigo e ficamos sem saber aonde ir, pois sempre almoçávamos no trabalho – levávamos marmitas. Com a nova direção, passamos a receber tíquete refeição, e não precisávamos mais levar comida de casa. Fomos a uma pensão, comemos e, depois, para “matar” o tempo até a hora de voltar ao trabalho, resolvemos ir à igreja para ver de perto o que víamos da janela.

  

      Chegamos lá meio sem fé, mas com respeito. Fomos atendidos por um frei que, amavelmente, nos abraçou e pediu para que caminhássemos junto a ele pelo pátio. No caminho, ele disse: vocês não creem no poder de Santo Antônio, certo? Mas digo-lhes que vocês vieram aqui hoje para que ele comprovasse o seu poder.  Saibam que, em breve, estarão casados. Sorrimos junto com o frei, e depois de um pouco de boa conversa com ele, fomos embora.

   

     Voltamos para o trabalho,  dizendo um para o outro: ele falou aquilo para você; enquanto dávamos largos sorrisos e gargalhadas.

 

Éramos muito amigos, mesmo.

   

     Um dia, aconteceu o que não esperávamos – a contenção de despesas da empresa chegou até nós e fomos dispensados e, automaticamente, separados. Mantivemos contatos apenas por telefone ou e-mails esporádicos, pois as novas atividades dos dois faziam com que precisássemos de mais dedicação profissional.

   

     No novo emprego, conheci uma mulher linda e fiquei apaixonado por ela. Foi uma paixão alucinadora e me fez pedi-la em casamento.

 

Em pouco tempo, casamos numa cerimônia simples, apenas no cartório, mas era o que eu queria.

   

     Algum tempo depois, passando pela cidade, encontrei com meu amigo. Abraçando-nos, fizemos um breve relato de nossas vidas e descobri que ele estava casado, também, com sua sócia na empresa que ele havia montado.

   

     Enquanto estávamos conversando, ouvimos o soar de sinos. Procuramos de onde vinha o som e vimos que era da igreja de Santo Antônio. Olhamos um para o outro e dissemos quase juntos – hoje é dia de Santo Antônio! Sorrimos com cumplicidade e crença nas palavras do frei que conversou conosco.

 

Amém

Marcos Toledo

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