quarta-feira, 9 de novembro de 2011

JUNTANDO CACOS-MARCOS TOLEDO


JUNTANDO  CACOS


Estava louco por uma aventura, porque era casado há muito tempo e aquela vida me deixava louco. A monotonia e a mesmice faziam com que eu só pensasse besteiras.
Eu amava demais minha mulher, tinha consciência de que ela também me amava, mas algo fazia com que eu pensasse o tempo todo em traí-la.  Aventura? Novidades? Não! Isso acontecia, porque no trabalho havia muitos jovens solteiros e alguns não tão jovens assim, mas descasados, que viviam contando como tinham sido seus finais de semanas: festas, boates, mulheres... cada dia uma diferente.
Ah! Isso ficava martelando na minha cabeça, porque eu passava os finais de semana dentro de casa, consertando uma tomada aqui, um chuveiro ali, comendo aquela comidinha de sempre, nos dois sentidos...
Tinha de fazer algo para mudar a minha vida - estava decidido.
Aproveitei uma viagem da minha mulher, para sair com os colegas do trabalho. Combinei com eles que, no final da semana, iríamos sair juntos.  Na sexta-feira, fui trabalhar com uma roupa mais jovial - pelo menos eu achava isso...
Ao final do expediente, fomos a uma festinha daquelas em que ninguém é de ninguém. Bebi, dancei e vadiei e fiquei me sentindo com sangue novo, mas eu não esperava o que aconteceu: ficar encantado por uma mulher que conheci na festa. Ela era tudo o que eu queria: gostava de ir a festas, praias, boates, e caí em sua malha.
Comecei a mentir para minha mulher, dizendo que tinha reuniões e viagens, só para sair com a outra... até que perdi a cabeça.
 Aluguei um apartamento e fui morar com ela, deixando minha mulher perplexa com a minha atitude, mas não desesperada. Com toda sua sabedoria e amor, antes de eu sair ela disse – vá, já que é isso que você quer, mas não se esqueça de que estarei aqui para juntar seus cacos quando quebrar a cara.
Fiz pouco caso das palavras dela e fui.
As minhas noites não eram mais as mesmas, eram de orgia total. Meus finais de semana não eram mais aqueles de total marasmo, agora eram festas, farras, boates - em cada noite havia algo novo, mas...
Eu não contava com o meu próprio corpo; ele já não estava aguentando tanta agitação. Eu precisava de descanso físico e mental, mas ela não; ela queria sair, curtir, dançar e se divertir o tempo todo.
Certo dia, estava cansado e disse que não queria sair. Ela não deu a menor importância às minhas vontades e saiu sozinha mesmo. Isso foi acontecendo outras vezes.
Uma noite, sentia-me muito cansado e ela disse que iria sair. Pedi para que não fosse, mas ela virou-se e disse - não estou aqui para ficar cuidando de idoso; não aguenta o pique, vá para um asilo. E, se quer saber, estou ficando com um garotão; amanhã irei morar com ele.
Sem dizer mais nada, foi embora e eu fiquei só. No primeiro momento, deu-me um desespero, uma agonia, mas depois comecei a pensar em como seria bom ficar longe daquilo tudo.
Minha ex-mulher soube do acontecido, por amigas, e foi me procurar. Resisti um pouco, pois não queria dar o braço a torcer e me fiz de forte.
Ela, pacientemente, disse: seu lugar na nossa casa está vago, esperando por você para ocupá-lo.
Voltei para ela, inicialmente, envergonhado. Aos poucos, descobri que ela era tudo na minha vida e que o que procurava na rua, poderia muito bem achar dentro da minha casa, com minha mulher que eu amava e que me amava também.
AMEM
Marcos Toledo

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